Com a série "Tremembé", sucesso no catálogo do Prime Video, o público voltou a falar sobre os bastidores do presídio paulista conhecido como “o presídio dos famosos”. A produção é inspirada no livro "Tremembé – O presídio dos famosos", do jornalista Ullisses Campbell, e expõe histórias de figuras conhecidas do Brasil que passaram pela penitenciária, como Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga, Alexandre Nardoni e Robinho.
Em entrevista ao Estadão, o autor destacou que esses nomes representam apenas uma pequena parte da realidade local: “O maior perfil de Tremembé é ser um lugar que concentra pessoas que cometeram crimes brutais contra a vida de pessoas da própria família”.
Após cumprir metade da pena de quase 40 anos pelo assassinato dos pais em 2002, Suzane von Richthofen conquistou o direito de cumprir o restante da sentença em liberdade, em janeiro de 2023. De acordo com a Lei de Execução Penal (LEP), todo detento nessa condição precisa ter um trabalho formal. Para isso, ela fundou a microempresa "Su Entrelinhas", loja de acessórios personalizados que também tem perfil no Instagram.
No site, a proposta era descrita com um tom afetuoso: “Todos os produtos são produzidos à mão com muito amor e carinho pela Su. Por isso as encomendas demoram até 15 dias para chegar. Mas vale muito a pena esperar”. Suzane chegou a publicar vídeos costurando sozinha, mostrando a confecção de sandálias, estofados e bolsas, além de atender pedidos até de clientes internacionais da Itália e do Japão, segundo matéria da Perfil Brasil.
Entretanto, o que parecia uma estratégia de ressocialização virou motivo de revolta. Em 2024, clientes da Su Entrelinhas descobriram que Suzane não estava mais envolvida diretamente na confecção das peças. Segundo o blog True Crime, também de Ulisses Campbell, desde o início de sua gravidez, há sete meses, o trabalho vinha sendo executado por três costureiras sob o comando de Josiely Olberg, ex-cunhada da ex-presidiária.
A descoberta aconteceu quando a cliente Pamela Siqueira, que havia comprado sandálias personalizadas por R$ 178, notou que o endereço de envio — Rua Espírito Santo, 214, Centro, Angatuba (SP), não coincidia com o local onde Suzane mora atualmente, em Bragança Paulista, com o novo companheiro, o médico Felipe Zecchini Muniz.
“Me senti ludibriada duas vezes. Primeiro porque achava que a encomenda chegaria antes do Natal. Segundo porque ela não customizou a sandália, como havia dito. Mas resolvi apagar a queixa porque tenho medo da Suzane. Até porque ela tem o meu endereço, né?”, contou Pamela ao True Crime.
No mesmo endereço citado, funciona um escritório de advocacia que representa Suzane em ações cíveis e na execução penal, incluindo processos relacionados à herança de sua avó, Margot Gude Hahmann, falecida em 2005.
Outro episódio que aumentou a polêmica envolve o enfermeiro Diogo Castro, que decidiu apoiar a ressocialização de Suzane comprando uma carteira de R$ 70. Após ser contatado por Josi, foi informado que, se adquirisse outro produto, teria direito a uma chamada de vídeo com a empresária. Ele aceitou a proposta e comprou uma nécessaire de R$ 80.
“Galera, é o seguinte: os produtos da Suzane são bons. Ela é irresistível. Senti a sua voz macia. É impossível não se apaixonar”, disse Diogo em um vídeo animado após receber o pedido. No entanto, no dia do seu aniversário, a tão prometida ligação não aconteceu. Ao tentar contato, foi novamente atendido por Josi, que exigiu uma nova compra para agendar o vídeo.
Sentindo-se enganado, o enfermeiro desabafou publicamente: “Vou logo avisando. Estou chateado. A Su Entrelinhas é uma loja feita para arrancar dinheiro e enganar as pessoas”, declarou, chamando a gerente de “picareta”.
Com a repercussão dos relatos, o perfil da loja voltou a receber uma enxurrada de comentários críticos. Muitos internautas ironizaram os valores cobrados pelos produtos, resumindo o sentimento coletivo com frases como “O que mata é o preço”. A maioria das publicações tem a mensagem que "os comentários neste post foram limitados."
Enquanto isso, o caso reacende um velho debate: até que ponto figuras envolvidas em crimes de grande repercussão devem ou não ser aceitas de volta à vida pública? Apesar das promessas de recomeço, a trajetória de Suzane von Richthofen segue despertando a curiosidade, e a indignação, do público brasileiro.